Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Aldeia Maracanã: Todos os lados da questão.

Post Atualizado:



Em 2006, um grupo de índios ocupou um prédio abandonado com um gigantesco valor histórico para a luta indígena no Brasil, e transformaram-no em um centro auto-gerido compartilhado por mais de 17 etnias e 150 índios que sobrevivem da venda de artesanato no local (Ao contrário do que muitos dizem eles não são vagabundos, vivem do que produzem).

Esse prédio, que o antropólogo Darcy Ribeiro transformou em Museu do Índio, é símbolo da preciosa história dos povos indígenas. O museu foi transferido para o bairro de Botafogo, mas o prédio continuou abandonado até que povos indígenas de 17 etnias diferentes decidiram ocupar o local devido a sua importância para a luta indígena no Brasil. Desde então, o local se transformou em um espaço para reunir diferentes culturas no coração do Rio.

Do outro lado da história os moradores, frequentadores e praticantes de esportes do entorno do estádio afirmam que o local estava degradado a anos, (e é verdade) que a obra pode significar uma revitalização dessa região. Que além de ter o maior estádio do pais e um centro poliesportivo, também é um corredor de ligação entre o centro e a Zona Norte.

Incompreensivelmente, o governador e o prefeito do Rio planejaram discretamente demolir o prédio para aumentar a área de circulação em torno do Maracanã para a Copa, um evento que dura um mês!
Correndo contra o tempo para entregar a cidade "limpa" que a FIFA exige para a Copa do Mundo, o governo estadual decidiu despejar os índios e demolir o prédio para "melhorar a mobilidade em torno do estádio". Os próprios órgãos técnicos do governo e até a FIFA disseram que essa medida é desnecessária, mas o prefeito, e o governador Sérgio Cabral, parecem não se importar com o valor do tesouro mais rico do Brasil: nossa diversidade cultural.

Nota-se claramente que as prioridades do governo são diferentes da boa parte da população, porém há quem apoie a derrubada do prédio. Há de grande parte das pessoas que residem na região o desejo de ter aquela área degradada revitalizada. (Como contribuintes que pagam os impostos, que em tese serviriam para cuidar dessa área importantíssima da cidade, não há como recrimina-los).

A questão é a forma anti-democrática e ilegal com que o governo do estado está conduzindo o caso. Pretendendo agora dar o lugar de bandeja pro Nusman construir um museu olímpico, com o nosso dinheiro.

Enfim, de minha parte estou com os índios, no que se refere ao respeito à sua cultura e a forma como querem viver. Por outro lado concordo que se o prédio não é tombado e não há projetos e nenhum interessado em bancar o local, talvez derruba-lo seja a melhor medida, isso enxergando pelo prisma dos moradores da região. Aí eu pergunto, onde estão as ONGs que adoram posar de protetores dos índios? Ninguém apresentou um projeto para captar recursos que façam o museu do índio se sustentar sem o dinheiro público. Está claro que o governo não irá por um centavo que não seja para derrubar o prédio. Alguém aí se lembra do que aconteceu com o Canecão?

Se for para a aldeia Maracanã ser um novo Canecão abandonado talvez seja melhor derrubar o prédio do antigo museu e alocar os indígenas para um local digno, onde possam viver e sobreviver à sua maneira. (Dúvidamos de tal gesto, conhecendo o governador. É mais possível que o caso se torne um novo Pinheirinho, onde muitos estão até hoje desalojados e esperando ajuda do governador de São Paulo).

Apresentem um projeto, algo que faça da aldeia Maracanã ser sustentável, sem necessidade de dinheiro público, que agregue valor cultural e turístico à região. Não apenas um "favelão tribal" à sombra de uma ruína abandonada pelo governo.

Caso não tenham um projeto, caso não seja possível vencer pelas formas legais. Eu torço apenas para que tudo seja resolvido sem o uso de truculência já tão comum neste governo fascista. E que aqueles manifestantes que estão lá protegendo os Índios antes de iniciarem qualquer provocação à policia se lembrem que ali estão famílias, não estudantes marxistas com fetiche de apanhar de policial. Existem 'n' formas de se lutar sem incitar gente desarmada a enfrentar a policia.

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