Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Paralisia do Expectador: Porque o brasileiro é tão acomodado para protestar?

Ideia do artigo extraído deste texto http://espacosevolutivo.wordpress.com/2013/04/02/12-grandes-defeitos-do-brasileiro/
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79639-6014-492,00.html

O brasileiro é um povo curioso. É fácil você encontrar alguém reclamando do pais, da politica, de preços. Mas é raro vermos protestos nas ruas, que não sejam de cunho politiqueiro controlado por algum partido qualquer, o povo não vai às ruas. Tudo tem se limitado a estudantes guiados por alguma entidade com interesses naquele protesto, mesmo que seja mera oposição cega.

Vivemos, atualmente, em um país onde além do Executivo, Legislativo e Judiciário, existem outros poderes (banqueiros, ONGs, pirataria, narcotráfico, milícias, bicheiros etc.) todos envolvidos e protegidos por algumas autoridades corruptas e parte da imprensa tendenciosa e comprada.

A explicação para o excesso de reclamação e para a falta de reação do povo já virou estudo aqui no Brasil. O resultado não apresentou nenhuma novidade: Não é hábito do brasileiro protestar no cotidiano. E parece pior, o brasileiro além de não protestar ACEITA passivamente decisões e mudanças com as quais ELE NÃO CONCORDA. Não há a menor resistência contra abusos como aumento de preços de transportes, taxas, benefícios exorbitantes a parlamentares, leis claramente autoritárias nem mesmo gastos absurdos com obras que em nada melhorarão a vida do povo. Nada disso parece ser o suficiente para causar uma revolta geral.

A pergunta que faz este blogueiro sofrer é. Por que, o Brasileiro se comporta como mero expectador e comentarista de um enredo no qual ele é o protagonista, por que?



A síndrome do Messias e a Paralisia do Expectador

A resposta a tanta passividade pode estar em um estudo de Fábio Iglesias, doutor em Psicologia e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o brasileiro é protagonista do fenômeno “ignorância pluralística”, termo cunhado pela primeira vez em 1924 pelo americano Floyd Alport, pioneiro da psicologia social moderna. “Esse comportamento ocorre quando um cidadão age de acordo com aquilo que os outros pensam, e não por aquilo que ele acha correto fazer. Essas pessoas pensam assim: se o outro não faz, por que eu vou fazer?”, diz Iglesias. O problema é que, se ninguém diz nada e consequentemente nada é feito, o desejo coletivo é sufocado.

Basicamente funciona assim: Estamos em um ônibus que possui 4 assentos destinados a idosos, deficientes físicos  gestantes e mulheres com bebê de colo (se você imaginou isso com a voz da gravação do metro, parabéns! Somos dois). Nos quatro assentos estão pessoas que não são estão nesse grupo descrito. O ônibus está cheio. Entram no coletivo 2 suas senhoras bem idosas. A entrada delas causa uma revolta interna em cada um dos passageiros que estão de pé e nos que estão nos assentos não preferenciais. Mas ninguém se manifesta, porque "tem 4 lugares destinados a essas senhoras e a obrigação de levantar é de um desses 4" e os 4 pensam assim "Não preciso me levantar tem mais 3 ali que poderiam fazer isso -Esses folgados!". E nenhum dos 4 se levanta, eis que algum passageiro se revolta e cede seu lugar a uma das 2 senhoras. Um dos que estão em pé resolve brigar com os 4 folgados. Um deles se levanta e cede o lugar a outra senhora. Problema resolvido? Não! A questão é que precisou que alguém se manifestasse antes, para que a revolta e em seguida a providência fosse tomada.

Isso meus caros eu chamo de "Síndrome do Messias". O brasileiro parece ser incapaz de tomar uma atitude sem que antes ela tenha sido tomada ou iniciada por alguém. O Brasileiro parece necessitar de alguém que faça por ele o que ele não consegue fazer por si só. É como viver eternamente a espera de um salvador, que vai resolver todos os problemas, como nunca antes na história desse pais...

E quando faz normalmente essa atitude vem aliada a um grande egoísmo. O brasileiro não se enxerga como um povo. Ele se vê como parte de um grupo dentro de um total de pessoas que formam o povo. E esse grupo o qual pertence torna os seus interesses mais importantes que os interesses dos outros grupos.

- Não a toa temos representantes de grupos religiosos, gays, negros etc... buscando leis ou benefícios específicos a cada grupo, esquecendo-se de outras causas que merecem maior ou igual importância -

Normalmente o brasileiro faz vistas grossas a pequenos pecados como furar a fila do banco. E quando reclama é porque ele se sente pessoalmente prejudicado por estar atrasado e aquela pessoa entrando na sua frente significa mais espera. O normal é não discutir "para não arranjar briga" quando acontece algum protesto ele acontece porque alguém se sentiu ofendido e ai os demais resolvem protestar também, não houve uma união. O brasileiro só tem hábito de reclamar por assuntos que em nada irão mudar a sua vida.

Deixa que eu deixo ou "Difusão da responsabilidade"

Quantas vezes você deixou de fazer algo esperando que alguém o fizesse? Quando, na sala de aula, o professor pergunta se todos entenderam, é raro alguém levantar a mão dizendo que está com dúvidas. Ninguém quer se destacar

O exemplo do ônibus que dei antes também se aplica perfeitamente aqui.

E quantas vezes achou que seus amigos e/ou colegas eram apáticos porque incapazes de fazer-lhe um favor?
Provavelmente você já passou por isso. Pediu algum favor a vários amigos através de email, onde cada destinatário podia ver a lista dos outros que receberam a mesma mensagem. O mais provável de acontecer nesse caso é cada um recolher-se à sua inércia, porque imagina que alguém resolverá o seu problema. É uma aplicação online do velho ditado "cachorro com dois donos morre de fome". Mas esse não é um problema moderno e muito menos ocorre apenas em casos triviais. Até porque cachorro sem dono algum também pode morrer de fome.

Ocorrido nos EUA Em 1964 um bárbaro crime chocou os moradores da região metropolitana de Nova Iorque:

Catherine Susan Genovese foi atacada por Winston Moseley quando chegava em casa, no Queens, na madrugada do dia 13 de março, sendo apunhalada duas vezes pelas costas. Seus gritos espantaram momentaneamente o agressor que chegou a entrar em seu carro e ir embora. Mesmo ferida, ela tentou chegar em casa. Minutos depois Moseley voltou, procurou por ela e, ao encontrá-la, tornou a esfaqueá-la. Enquanto agonizava, foi estuprada e US$ 49,00 foram roubados de sua bolsa. Ferimentos em suas mãos mostraram que ela lutou por sua vida durante agonizantes 35 minutos, gritando desesperadamente por socorro. Quando finalmente a polícia chegou, dois minutos após ter sido chamada, era tarde demais. Kitty, como era conhecida por seus amigos, morreu a caminho do hospital, aos 28 anos de idade. Apesar de toda a brutalidade do assassinato, foi um outro detalhe que teve avassaladora repercussão na mídia: do seu primeiro grito até o momento em que perdeu os sentidos, Kitty Genovese gritou por socorro e implorou por ajuda por mais de meia hora, em frente a diversos prédios residenciais - inclusive ao que ela própria morava. Nada menos que 38 pessoas presenciaram o ataque em algum momento, de alguma forma, segundo seus próprios depoimentos mais tarde. Mas ninguém chamou a polícia.
Ou seja bastava que uma das 38 pessoas que a ouviu gritar no primeiro instante saísse de casa. Que o bandido com medo tinha fugido. voltou quando constatou que ninguém veio socorre-la. Contou com a impunidade e com a omissão daquela vizinhança.

Comete-se muitos crimes e abusos aqui no Brasil graças a esses fatores: Omissão e impunidade, inclusive mais um favor que irei listar a seguir:

Não vai dar em nada!

O “não vai dar em nada” é um discurso comum entre os “não-reclamantes”. O estudante de Artes Plásticas Solano Guedes, de 25 anos, diz que evita se envolver em qualquer situação pública. “Sou omisso, sim, como todo brasileiro. Já vi brigas na rua, gente tentando arrombar carro. Mas nunca denuncio. É uma mistura de medo e falta de credibilidade nas autoridades”, afirma.

Mesmo quem sofre uma série de prejuízos não abre a boca. É o caso da professora carioca Maria Luzia Boulier, de 58 anos. Ela já comprou uma enciclopédia em que faltava um volume; pagou compras no cartão de crédito que jamais fez; e adquiriu, pela internet, uma esteira ergométrica defeituosa. Maria Luzia reclamou apenas neste último caso. Durante alguns dias, ligou para a empresa. Não obteve resposta. Foi ao Procon, mas, depois de uma espera de 40 minutos, desistiu de dar queixa.

Voltando ao exemplo do crime contra Catherine Suzan Gennovese em 1964:

As explicações da época - negação de afeto, banalização da violência, indiferença, agressividade contida, despersonalização dos habitantes das metrópoles - não satisfizeram os jovens Bibb Latané e John Darley. Como psicólogos e pesquisadores eles acreditavam mais no poder da situação em que a pessoa se encontra do que na sua personalidade. Buscaram entender, então, quais as condições necessárias para que pessoas comuns ignorem pedidos de ajuda - explícitos ou implícitos - e adormeçam sua compaixão, no que se convencionou chamar de Efeito do Espectador (bystander effect) ou Apatia do Espectador (bystander apathy).

(Desse mal eu não morro. Com meus artigos e denuncias eu já provoquei a prisão de um arrombador de carros http://shogunidades.blogspot.com.br/2010/07/apos-denuncia-choque-prende-homem-que.html E estou movendo dois processos um contra a Oi e outros contra a Sky)

A Cultura do Silêncio

A apatia diante de um escândalo público também é frequente no Brasil. Nas décadas de 80 e 90, o contador brasiliense Honório Bispo saiu às ruas para lutar pelas Diretas Já e pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Caso que apenas se concretizou pelo massivo uso da imprensa. Estudiosos acreditam que o Impeachment nunca aconteceria se a mídia não colocasse no ar o ataque massivo ao presidente: 10 das 24 horas de programação das emissoras nas semanas anteriores ao ato divulgavam a ideia das Diretas Já e Impeachment.

Um estudo da UnB constatou que a “cultura do silêncio” também acontece em outros países. “Portugal, Espanha e parte da Itália são coletivistas como o Brasil”, afirma o psicólogo. Em nações mais individualistas, como em certos países europeus e a vizinha Argentina, o que conta é o que cada um pensa. “As ações são baseadas na autorreferência”, diz o estudo. Nos centros de Buenos Aires e Paris, é comum ver marchas e protestos diários dos moradores.

A mídia pode agir como um desencadeador de reclamações, principalmente nas situações de política pública. “Se o cidadão vê na mídia o que ele tem vontade de falar, conclui que não está isolado”, afirma o pesquisador.

O antropólogo Roberto DaMatta diz que não se pode dissociar o comportamento omisso dos brasileiros da prática do “jeitinho”. Para ele, o fato de o povo não lutar por seus direitos, em maior ou menor grau, também pode ser explicado pelas pequenas infrações que a maioria comete no dia a dia. “Molhar a mão” do guarda para fugir da multa, estacionar nas vagas para deficientes ou driblar o engarrafamento ao usar o acostamento das estradas são práticas comuns e fazem o brasileiro achar que não tem moral para reclamar do político corrupto. “Existe um elo entre todos esses comportamentos.

Uma sociedade de rabo preso não pode ser uma sociedade de protesto”, diz o antropólogo.

Apesar das explicações diversas sobre o comportamento passivo dos brasileiros, os estudiosos concordam num ponto: nas filas de espera, nos direitos do consumidor ou na fiscalização da democracia, é preciso agir individualmente e de acordo com a própria consciência. “Isso evita a chamada espiral do silêncio”, diz o pesquisador Iglesias. O primeiro passo para a mudança é abrir a boca.


Fontes:
http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/difusao-de-responsabilidade/29147/
http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/deixa-que-eu-deixo-terceirizando-a-responsabilidade/44779/

2 comentários:

  1. Sergio Buarque de Holanda já tratava desse tema sintetizando o "homem cordial" no seu Raízes do Brasil

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"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)