Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Kleryston Negreiro: O QUE ESPERAR DE UM PROFESSOR?




Quando você pensa na figura de um professor, o que lhe vem a cabeça? Pelo menos alguém que tenha domínio de assuntos gerais, tenha fluência verbal, seja versado em temas, mesmo que forma mais geral, ligados à alta cultura e ao conhecimento. Também achava isso, por isso me tornei professor, por valorizar o conhecimento e saber o quanto é importante uma boa formação cultural que vá além da acadêmica e um amplo domínio da norma de prestígio para compreender sua área específica e se fazer entender por aqueles que o ouvem. Mas não é isso que tenho visto entre meus colegas, na verdade, tenho sido surpreendido por professores (e em várias situações e conversas) em que eles dizem para mim admirados o quanto sou culto e falo com fluência sobre vários assuntos. Não que eu seja um grande pensador ou filósofo, longe de mim, sou apenas um professor de língua materna e suas literaturas, igual a outros tantos por aí. E o que me surpreende é justamente isso. Vejo cada vez mais profissionais do ensino, que deveriam ser os formadores das próximas gerações, aqueles a quem essas crianças são entregues por pais ávidos para que seus filhos saiam com alguma formação básica e se torne alguém capacitado a conhecer e viver nesse mundo cada vez mais complexo, desconhecedores desses mesmos assuntos, desprovidos dessa mesma formação básica. E se eles não possuem esta valiosa ferramenta, esse conhecimento mais amplo, o que, então, estão dando aos nossos filhos?

Fora o fato de que muitos entraram no magistério por falta de opção nas graduações escolhidas, o que vejo é a má formação docente mesmo. Considerando que os professores atuais foram os alunos dos anos finais da década de 1970 e o grosso da mão de obra educacional atual veio dos bancos escolares dos anos de 1980 e 1990, pinta-se então um quadro trágico de destruição da busca pelo conhecimento perpetrada pelo “grande sábio pedagógico” Paulo Freire e sua pedagogia às avessas que tornou professores apenas cuidadores de jovens e teorias linguísticas que ano após ano aviltou toda uma geração do domínio do próprio idioma.

O reflexo de tudo isso são profissionais do ensino, hoje, que mesmo quando lecionam Língua Portuguesa cometem barbaridades com a flor do Lácio, que lecionam Literatura com a pompa dos ignorantes que bradam aos quatro ventos seu desprazer em ler. E olha que nem estou mencionando os doutrinadores marxistas, que subvertem a verdade em nome de uma ideologia, falo de desconhecimento mesmo. Falo da nulidade me entabular uma conversa em que se troque conhecimento acumulado em suas respectivas áreas, incapacidade de fazer uma leitura do seu tempo para orientar aqueles que um dia cuidaram de nós. Profissionais do ensino que sequer conhecem as referências clássicas ou contemporâneas ocidentais que sirva para na prática de ensinar conectar o conhecimento pedagógico com a realidade que cerca a vida dos alunos. E não falo de militância ou discurso de oprimidos e opressores, falo de ter noção básica da realidade, de uso de vocabulário corrente e coisas que qualquer habitante dessas paragens deveria dominar.

Por isso o meu espanto. Porque, cada vez que converso com meus colegas, no afã de ampliar meus parcos conhecimentos com conhecedores das várias correntes do saber humano (como esperava em um ambiente de estudiosos de seus assuntos), sinto-me como se estivesse ainda em sala de aula ensinando, transmitindo o que acumulei através de anos dedicados a leitura e compreensão do mundo e isso me assusta.


(Professor de Língua portuguesa e Literatura na rede particular de ensino do Rio de Janeiro)

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