Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

MACBETH E A INSANIDADE DO PODER


Esses dias, numa aula de literatura, exibi para meus alunos uma versão recente de Macbeth para posterior discussão. Enquanto assistiam, fiquei refletindo sobre a obra e sua atemporalidade. Esse é um traço dos clássicos, que os tornam obras relevantes e vindouras, e a peça shakespeariana não é diferente.

Nela, o nobre Macbeth recebe um vaticínio de três bruxas, ainda no campo de batalha, de que ele será coroado rei. Ao tomar ciência da profecia, sua esposa, Lady Macbeth o convence a matar o rei e seu príncipe (que sobrevive e foge) para que assuma o trono. Tomados de ambição, deixam então um rastro de morte e tirania para perpetuarem-se no poder. Porém, passam a ser assombrados pela culpa, que os levam à loucura, solidão e no fim à morte.

A obra trata de ambição desenfreada e da tirania por trás da busca pelo poder absoluto. A tragédia mostra o quanto o caráter de um homem (muitas vezes, já tendo valores morais questionáveis) pode mudar e como sua alma pode apodrecer em nome desse poder. Sua relevância está no fato de que isso é da condição humana. A tragédia está presente em nossa essência e somos fadados a atos vis, por isso a existência de valores morais para nortear-nos.


E por que estou falando de uma peça da era elisabetana aqui no blog? Porque, enquanto ia vendo o filme com meus alunos fui pensando em nossa situação política atual e em como ficamos à mercê de um regime tirânico, vendo como várias almas foram ou são corrompidas em nome de um projeto de poder. Sim, estou falando desses treze anos de governo do PT, desses treze anos em que ficamos – e ainda estamos – sob o jugo de tiranetes que buscavam não fortunas, mas uma eternização no comando do país.

Nem pretendo falar de detalhes sórdidos que beiram à obscenidade, isso já vem sendo mostrado em todos os veículos de comunicação. Na verdade, o que gostaria de analisar (ou tentar analisar) como isso acontece, como ficamos tão vulneráveis a esse tipo de pessoas, como alguém que interage em sua vida privada, que tem amigos, familiares, filhos, netos, é capaz de, em nome de algo abstrato como o poder, em nome de dominar as vidas de todos e ter a todos sob sua tutela e capricho, promove todo tipo de atrocidade, todo tipo de vilania – e não é aquela caricata dos filmes do passado – para se manter como o mandatário de um país.


Lula, Dilma e toda a sua corja um dia (acredito eu) tiveram algum princípio moral. Assim como Macbeth e sua esposa, um dia ambicionaram apenas tocar suas vidas, porém, assim como eles, provavelmente algo os fez acreditar que eles eram os escolhidos, eles eram os vaticinados a guiar o povo e serem líderes. Alguém mítico deve ter dito: “sereis rei!”.

E a partir desse ponto, não mediram esforços, não avaliaram a moralidade de seus atos, simplesmente agiram. Como Macbeth, deixaram um caminho de sangue e miséria, assim como Macbeth, encastelaram-se no poder e assim como o Rei da Escócia, passaram a ver inimigos e sombras a quererem derrubá-los.

Eles se embriagaram de poder e aparelharam todo o sistema, corromperam as instituições, roubaram, destruíram reputações, perseguiram adversários e deixaram um rastro de destruição que ainda perdurará. Deixaram um mal enraizado de uma maneira tão profunda que, se regado, criará novos tiranetes, novos reis imerecidos que se agarram a títulos e status e, como um Midas inverso, transformarão tudo que tocarem em fome e miséria.



Vivemos tempos sombrios, como viviam os súditos de Macbeth, mas torço para que, assim como ele, esses nossos tiranetes sofram suas merecidas punições. Espero que, assim como a obra, os homens justos se ergam para destronar e arrancar o mal plantado em todos os recantos do poder e que possamos ter um porvir onde Macbeth e outros tiranos sejam apenas exemplos de obras que tratam de um mal que já existiu e que deixe de refletir a realidade. Que aconteça em nosso tempo o destino de toda tragédia: a punição do mal.



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