Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

domingo, 10 de julho de 2016

Conservadorismo Não é Crime



Em poucos lugares há tanta falta de bom senso quanto o meio intelectual.

Não que haja algo de surpreendente nisto. Em “Intelectuais e Sociedade”, Thomas Sowell dá o diagnóstico. Profissionais como médicos e engenheiros ganham notoriedade ao fazer apenas o que todos os outros fazem, mas com excelência. Já no mundo intelectual, os que ganham notoriedade são os que vêm com algo novo, que fogem ao status quo, que creem ter pensado algo que ninguém mais pensou. Ainda segundo ele, diz-se que muitos criticam a falta de bom senso dos intelectuais, mas que isso não lhes é nenhum atrativo. Como, afinal, poderiam os intelectuais demonstrar sua sapiência superior ao concordar com todo mundo? George Orwell ironizou uma vez essa presunção ao dizer que há ideias tão absurdas que apenas um intelectual poderia acreditar nelas.

Em nenhum outro lugar tal tendência se mostra tão óbvia quanto ao tratamento dado por nossa mídia ao “conservadorismo”. Quando vejo alguém na mídia atribuir a culpa de uma tragédia a uma suposta “onda conservadora” ou ter calafrios à mera menção do conservadorismo, já sei estar diante de um pulha ou de um embusteiro.

Ser conservador não é ser reacionário e querer parar no tempo. É reconhecer que as ideias têm consequências. Ideias são boas ou ruins de acordo com suas consequências. Pouco importa se essas ideias surgiram na última década, no último século ou se sempre acompanharam a humanidade.

Qualquer pessoa que não esteja delirando em seu submundo intelectual particular e esteja mais atento à realidade concreta seria capaz de perceber tal delírio. O povo é conservador por natureza. Se perguntados sobre o que creem ser o maior problema na educação da geração atual, a maioria esmagadora dos pais diriam que é a falta de respeito e de limites. Será que esses intelectuais que vociferam contra a “onda conservadora” diriam que o respeito aos mais velhos (e principalmente aos pais) é um preconceito infundado ou apenas mais uma ideia ultrapassada?

Implícito a essa mentalidade anticonservadora parece estar a noção de que tudo que é novo é bom – por ser novo. É como se dissessem que as novas gerações são tão sábias e racionais que não devem nada e não têm nada a aprender com a sabedoria e a experiência de seus antepassados. Como se todo o progresso e prosperidade, assim como o conhecimento e os valores e instituições que tornaram isso possível, fossem apenas uma dádiva de Deus, e não o resultado dos esforços incansáveis das gerações anteriores. O desdém e o desprezo pelo passado talvez seja uma das maiores formas de ingratidão no mundo de hoje.

Como já disse uma vez o filósofo britânico Roger Scruton, a mentalidade conservadora surge de um entendimento compartilhado por qualquer pessoa madura: de que as coisas valiosas são dificilmente construídas, mas facilmente destruídas. Todo bom conservador não é avesso a mudanças, mas entende que há valores, instituições, conhecimento, hábitos, costumes e tradições benéficos que devem e merecem ser conservados e transmitidos às gerações futuras. Os clássicos não são chamados de clássicos à toa. São clássicos justamente porque sua mensagem é atemporal e capaz de transmitir alguma sabedoria para toda a humanidade, e não apenas para a sociedade de sua época. Por que outra razão ainda haveríamos de estudar filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles? A educação é um processo conservador por natureza, pois estamos apenas conservando e transmitindo às novas gerações o conhecimento acumulado por nossos antepassados.

Mas nada disso parece ter importância para os nossos intelectuais, para quem o “conservadorismo” se torna apenas um bode expiatório, colocando-o como sinônimo de tudo que há de mais abjeto no mundo, como o racismo. Aparentemente, para tais mentes simplórias os conservadores não querem manter o que há de bom, mas apenas o que há de mau, como se conservadorismo significasse perseverar apenas no vício, nunca na virtude.

Já passou da hora de mandarmos às favas toda essa retórica anticonservadora, que nada têm feito além de obscurecer o debate e marginalizar aqueles que creem que muitas das soluções antigas para os problemas da humanidade continuam sendo as melhores soluções disponíveis. A humanidade não é um gigantesco laboratório em que se possa ignorar toda a sabedoria do passado apenas para que um pequeno punhado de seres “ungidos” possam se sentir bem consigo mesmos ao encontrar alguma solução milagrosa para esses problemas, mas que frequentemente só tornam as coisas piores. A busca dessa fórmula mágica já causou demasiados estragos para que continue a ser perseguida impunemente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Recomenda-se ao comentarista que submeta seu texto a um corretor ortográfico.

Pede-se o uso de parágrafo, acrescentando-se um espaço entre uma linha e outra.

O blog deletará texto só com letras MAIÚSCULAS.


"Se a prudência da reserva e decoro indica o silenciar em algumas circunstâncias, em outras, uma prudência de uma ordem maior pode justificar a atitude de dizer o que pensamos." - (Edmund Burke)