Millor Fernandes:


Jornalismo, por princípio, é oposição – oposição a tudo, inclusive à oposição. Ninguém deve ficar acima de qualquer suspeita; para o jornalista, não existem santos.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Rafael Andreazza Daros: Por que virei à direita?

Sim, eu sei. Já existe um livro com o mesmo título deste artigo. Não quero plagiá-lo, mas me pareceu apenas o título mais apropriado para este ensaio.

Tendo já flertado no passado com algumas ideias de esquerda, talvez alguns pudessem se perguntar porque a critico tanto hoje. Alguns podem até dizer que o faço por conveniência e que não mantenho contato com esquerdistas por medo do contraditório e que busco apenas viés de confirmação para as minhas ideias.

Entretanto, digo por experiência própria que simplesmente não vale a pena debater com esquerdistas. Tivessem eles bons argumentos, talvez mantivesse alguns em meus círculos de relacionamentos para confrontar minhas ideias. Mas tudo que consegui até hoje foram apenas desapontamentos.

Podem até me chamar de radical de direita se quiserem. Não me importo. A questão é que o motivo de ter abandonado toda e qualquer simpatia pela esquerda é um só: a absoluta mediocridade intelectual da esquerda.

O esquerdista típico não debate com você, apenas despeja juízos de valor sobre a sua posição baseados na posição dele. Se o assunto é a reforma da previdência, ele não tentará provar que as análises sobre a insustentabilidade da previdência estão erradas, apenas se limitará a dizer que quem é a favor da reforma está a favor do capitalista malvadão e quer tirar o dinheiro do trabalhador. Mostre a eles este vídeo com argumentos mostrando que o boicote a países que exploram a mão-de-obra infantil apenas piora a situação dessas crianças e será acusado de ser um sociopata ou estar a serviço dos interesses dos empresários.

Até hoje, eu NUNCA vi um esquerdista capaz de fazer uma argumentação sólida e pautar seus argumentos em evidências. Você pode discutir com vários deles sobre desarmamento sem que nenhum deles traga um único dado empírico sobre algum país que tenha visto sua criminalidade despencar depois de desarmar a população. Ou sobre algum país que tenha visto o padrão de vida do trabalhador decair por ter legalizado a terceirização. Talvez o exemplo mais emblemático seja este artigo culpando o neoliberalismo por todos os males do mundo. Uma verdadeira obra-prima no que se refere ao uso da retórica em detrimento dos fatos.

Como exemplo, há 2 passagens do texto em especial que me chamaram a atenção. A primeira é quando o autor fala que a cobrança de juros é uma forma ilegítima de renda que apenas transfere renda dos pobres para os ricos. Em momento algum ele sequer pareceu ver a necessidade de se perguntar por que então as pessoas contraem dívidas se sabem que vão precisar pagar juros, ou do fato delas pegarem empréstimos porque têm urgências financeiras e não podem esperar poupar o bastante. Tampouco o autor parece levar em consideração a hipótese de que os bancos simplesmente iriam à falência ou se negariam a conceder empréstimos se fossem impossibilitados de cobrar juros. E, quando tais questões são levantadas por economistas e intelectuais "de direita", jamais os esquerdistas se focam em mostrar algum erro de análise ou fato equivocado. No máximo, pegam citações fora de contexto e interpretadas da forma mais porca possível para que possam denegrir a imagem do autor como se tratasse de um lunático ou um mau caráter cujas ideias nem merecessem resposta.

O comportamento padrão do esquerdista não é rebater o argumento, mas simplesmente desmerecer a fonte como se não fosse digna de crédito algum, ou então atacar espantalhos através de alguma ampliação indevida, extrapolando vícios individuais como se fossem vícios da sociedade (um ato racista isolado jamais é visto como um ato racista isolado, mas sim como uma prova de que "a sociedade" é racista e precisa ser "consertada" através do poder redentor do estado). Já debati com uma esquerdista que simplesmente se negou a ler um link que enviei que expunha melhor a minha posição simplesmente por se tratar de um colunista da Veja. Outros, quando apresentados a um fato novo ao qual não davam crédito, simplesmente perguntavam em tom de deboche: "leu na Veja né?". Outro, novamente ao ser apresentado a um texto que explanava melhor a minha posição, simplesmente acusou o texto de ser "burguês e comportado", seja lá o que isso queira dizer. Outras 2 simplesmente acusaram certos autores liberais de serem um fascista e um racista, mas tampouco foram capazes de justificar a alegação ou de sequer citar algum pensamento do autor em questão que pudessem levar alguém a crer que nutrem algum apreço pelo fascismo ou pelo racismo (a primeira simplesmente mencionou que "ouviu falar" que o autor era fascista e aparentemente aceitou tal alegação como fato consumado sem sequer perguntar o motivo).

Um conhecido meu disse ter percebido como a esquerda quase nunca cita fontes primárias. Há outra passagem no texto sobre o neoliberalismo que mostra isso, quando ele afirma que "O consumo e o crescimento econômico são os motores da destruição do meio ambiente". Uma rápida consulta no google é capaz de refutar isto. Se fosse verdade, então os lugares mais devastados deveriam ser aqueles onde há mais crescimento econômico e mais consumo. Entretanto, dos 10 lugares mais poluídos do mundo, nenhum deles está em países desenvolvidos. Os países mais desenvolvidos da lista são Rússia e Argentina.

Na visão da esquerda, TUDO que acontecesse de ruim no mundo é culpa de alguém que quer efetivamente promover o mal, e nada parece ser deixado ao fruto do acaso ou de forças fora de nosso controle. Por exemplo, se uma vacina mata 10 crianças e salva outras 1000, então os esquerdistas irão acusar a indústria farmacêutica de só se importar com o lucro e não ligar a mínima para as vidas humanas. Se um petroleiro naufraga causando um desastre ambiental, então a culpa é do capitalismo ou da "ganância" dos empresários, apesar do fato de que o desastre tenha causado prejuízo a todos os envolvidos e sem nenhuma consideração à mera possibilidade de existir ou não alguma tecnologia de navegação 100% à prova de acidentes, ou ao fato de que usar meios alternativos de transporte possam causar ainda mais impacto ambiental no longo prazo por dispensarem mais recursos para serem transportados. Toda a retórica esquerdista se baseia em criticar a realidade em prol de uma utopia imaginária: enquanto o capitalismo é criticado por situações lamentáveis que ainda persistem - mesmo que sejam mais acentuadas em países socialistas ou com agendas claramente anticapitalistas - o socialismo é julgado por sua retórica, jamais por fatos.

A visão de esquerda parece se basear em uma busca quase quixotesca por heróis para se admirar e vilões para se odiar. Quase sem exceção, a sociedade ocidental é a vilã, não raro como se esta fosse a fonte de todos os vícios e de toda a maldade no mundo. Um comentário que vi esses dias sobre essa questão ilustra muito bem essa visão por beirar o absurdo. Reproduzo abaixo:

Este pensamento é velho: Se não fosse este trabalho ‘escravo’ os asiáticos estariam em uma situação pior. O cara do vídeo mostra, eu até já li o livro do Krugman. Por tras (tão atrás disto que ninguém lembra) existem dois sistemas de valores que um dia estavam em conflito, agora um domina. Os asiáticos estavam muito bem (obrigado) treinando tai chi chuam e comendo peixe cru, quando chegaram os ocidentais e falaram: vcs não são civilizados, tem um padrão de vida baixo e etc. Mas pelos valores orientais não estava tão ruim. Conversa vai conversa vem, o capitalismo criou um novo mercado consumidor, mão de obra e fonte de matéria prima. Algum tempo depois temos escravos modernos, pobreza, criminalidade alta, prostituição de crianças e toda uma rede de ideologia para que ninguém faça a pergunta proibida: sem os valores ocidentais sobre os quais o capitalismo está assentado os asiáticos não estariam melhor? Pq que tenho que consumir tanto?
Parece uma historia que teve com uns povos que moravam na ‘américa’
Em outras palavras, o que o sujeito está dizendo, implicitamente, é que o oriente era praticamente uma sociedade utópica até que os selvagens ocidentais trouxeram todos os males que afligem o continente. O fato do ocidente ter sido a primeira sociedade na história a condenar e abolir a escravidão parece ser algo de uma realidade paralela, assim como o fato dos povos orientais também terem cometido diversas atrocidades, sendo a China comunista e a Coreia do Norte os exemplos mais notáveis. Será que ele acredita, como deixa transparecer, que sequer existia pobreza no Oriente antes da chegada dos "ocidentais malvadões"?

Para qualquer um que se interesse pelo mundo intelectual e preze pelo rigor e pela honestidade intelectual, e que não seja mau caráter nem tenha rabo preso com alguma visão de mundo ou partido político, a superioridade intelectual da direita é gritante. É praticamente impossível ler autores como Sowell, Mises, Hayek e Dalrymple - entre tantos outros - , e continuar sendo um esquerdista. Eu pelo menos não conheço nenhuma exceção a esta regra. Muitos dos maiores nomes de intelectuais liberais e conservadores são, eles próprios, ex-esquerdistas.

Nelson Rodrigues disse uma vez que não há ninguém mais bobo do que o esquerdista sincero porque ele não sabe nada e apenas repete o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer. Mas mesmo isto me parece uma visão condescendente demais na minha opinião. Como não tenho rabo preso com nenhuma sensibilidade politicamente correta, vou um pouco além: não suporto a esquerda porque o esquerdista padrão é um boçal.

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